Auto Proclamação da República Portuguêsa na Câmara Municipal de Lisboa

Aos cinco dias do mês de Outubro do anno de mil novecentos e dez, da era christã, pelas oito horas e quarenta minutos da manhã, nesta cidade de Lisboa e edificio dos Paços do Concelho, da varanda principal delles, o cidadão Doutor Francisco Eusébio Leão, secretario do Directorio do Partido Republicano Português, em nome deste, como representante do povo republicano e das forças revolucionarias da terra e mar, perante milhares de cidadãos que se encontravam na Praça do Municipio, declarou que estava
abolida a Monarchia em Portugal e todos os seus domínios e proclamada a Republica Portuguêsa.

Esta declaração foi recebida com delirantes e prolongadas ovações, acclamando o povo o novo regimen com calorosos e intensos vivas à Pátria e à Republica.

(…)
Continuando disse que a Republica Portuguêsa será um regimen de liberdade e de paz, dentro do qual caberão todas as aspirações e iniciativas generosas: recommendava, portanto, a todos, que mostrem a sua confiança nas novas instituições, sendo magnanimos para com os vencidos e voltando às suas accupações habituaes, tendo sempre em vista que a divisa do novo regimen é:
“Ordem e Trabalho”

Prolongados e enthusiasticos applausos do povo acolheram as suas palavras.

Em seguida o cidadão Innocencio Camacho Rodrigues, membro do Directorio, em nome do comité revolucionario, propôs ao povo os seguintes cidadãos para constituirem o
Governo Provisorio da Republica Portuguêsa:

Presidente sem pasta – Doutor Joaquim Theophilo Braga… Interior – Doutor Antonio Jose de Almeida… Justiça – Doutor Affonso Costa… Fazenda – Basilio Telles… Guerra – Antonio Xavier Correia Barreto… Marinha – Amaro Justiniano de Azevedo Gomes… Extrangeiros – Doutor Bernardino Luiz Machado Guimarães… Obras Publicas – Doutor Antonio Luiz Gomes.
Propôs tambem para Governador Civil de Lisboa o Doutor Francisco Eusebio Leão.

Cada um destes nomes foi freneticamente festejado e a proposta approvada por acclamação, continuando o povo a manifestar o mais caloroso e intenso enthusiasmo.

Fallou também o cidadão Jose Relvas, membro do Directorio, dizendo que o povo português, num grande anceio de liberdade, de moralidade e de justiça, conseguira, num esforço sublime, redimir a Patria Portuguêsa, proclamando a Republica. (…) Saudou a heroica cidade de Lisbôa, os revolucionarios civis, do exercito e da armada, louvando-os pela sua bravura e ardente patriotismo e pala magnanimidade com que trataram os vencidos, num momento em que seriam legitimas todas as represalias, e terminou com frases de sentida saudade pelos mortos.

Calorosos applausos coroaram as suas palavras.
Seguidamente foi arvorada no edificio dos Paços do Concelho a bandeira vermelha e verde, côres da bandeira sob a qual combateram os revolucionarios.

Este acto foi recebido pelo povo com grandes manifestações de regosijo.
E, para constar, se lavrou este auto que, depois de assignado pelos membros do Directorio presentes a este acto, por vereadores da Camara Municipal de Lisboa e cidadãos republicanos de representação, será archivado nesta Camara.


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