Camilo Castelo Branco é o escritor do mês na Biblioteca Municipal

Para este mês de Dezembro a Biblioteca Municipal Alves Mateus destaca Camilo Castelo Branco na sua sala de leitura de adultos. Esta exposição tem a intenção de exibir alguns livros da vasta obra deste grande escritor português.

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 Camilo Ferreira Botelho Castelo Branco foi um dos escritores mais profícuos do segundo Romantismo português. Poeta, panfletário, polemista, prefaciador, crítico, tradutor, romancista, dramaturgo, bibliografo, historiador, cultor de todos os géneros, o conjunto da sua obra literária é o mais vasto e diversificado de todo o século dezanove. No romance, género que mais versou (publicou cinquenta e quatro romances), Camilo escreveu na fronteira entre o idealismo romântico (mas já, de certo modo, sob a influência da corrente realista) e a tentativa de alcançar a estética da geração naturalista, primeiro na forma de pastiche estilístico, mais tarde como adesão (embora reactiva) ao movimento de que, no íntimo, desdenhava.

Nascido em Lisboa, cedo ficou órfão e passou a viver em Vila Real de Trás-os-Montes com a irmã, mais velha, e uma tia paterna. Depois do casamento da irmã, vai viver com ela para Vilarinho da Samardã onde o irmão do cunhado, o padre António José de Azevedo, o iniciou nos primeiros estudos. A vida aldeã e as recordações de infância perpassam pelas suas narrativas, todas elas, de uma forma ou outra, dotadas de um cunho autobiográfico ou do relato ficcionado de incidentes a que o escritor assistiu ou lhe foram narrados pelos próprios protagonistas.

Aos quinze anos casa pela primeira vez, com Joaquina Pereira de França, com quem teve uma filha, logo abandonando as duas, que viriam a morrer pouco tempo depois. Em 1843 matriculou-se na Escola Médica do Porto mas não chegou a concluir os estudos de medicina. Tentou em 1846 frequentar  Direito em Coimbra, projecto também gorado por não ter sido admitido na Universidade: desde o ano anterior, Camilo começara a publicar poemas Os Pundunores Desagravados, O Juízo Final e O Sonho do Inferno. De regresso a Vila Real, conhece Patrícia Emília de Barros, com quem foge. Acusado de rapto e desvio de dinheiro, Camilo e Patrícia, que viviam maritalmente, foram presos na Cadeia da Relação do Porto. Desta ligação reultou o nascimento de uma filha, Bernardina Amélia, em 1848.

Ainda em 1846, e na sequência da revolta da Maria da Fonte, Camilo terá combatido ao lado da guerrilha miguelista o que, segundo alguns biógrafos, lhe deveu a nomeação para amanuense do Governo Civil em Vila Real, mas fugiu da cidade depois de ter publicado, no jornal portuense O Nacional, duas cartas contra o Governador Civil. Foi viver sozinho para o Porto onde começou a colaborar na imprensa e se revelou polígrafo de escrita rápida, com a publicação da narrativa Maria! Não me mates que sou tua Mãe!, de dois volumes de miscelâneas, de um poema e de uma peça teatral.

Em 1850 estava de regresso a Lisboa, onde encetou a sua carreira de polemista com o panfleto O Clero e o Sr. Alexandre Herculano, defendendo o amigo escritor. Neste ano, em que a escrita do romance Anátema e a colaboração em vários jornais – mas também a fundação de alguns outros – marcam a sua dedicação total ao ofício da escrita,  conheceu Ana Augusta Plácido, casada com Manuel Pinheiro Alves, mulher fatal, cujo amor impossível quase o levou a abraçar o sacerdócio, tendo solicitado a imposição de Ordens Menores, que lhe foram recusadas devido à vida aventurosa que até então levara. Continua a escrever vertiginosamente, ao mesmo tempo que mantém uma relação adulterina com Ana Plácido. A ligação dos dois foi muito censurada pela sociedade portuense, visto Ana ser casada com um homem respeitado na cidade e ser cunhada de Bernardo Ferreira, filho da famosa Ferreirinha da Régua. Os escritos de Camilo passaram a ser recusados pelos jornais do Porto, deixando-o sem meios de subsistência. Viu-se obrigado a concorrer em 1858 ao cargo de segundo bibliotecário da Biblioteca Pública Municipal do Porto, não conseguindo ser admitido, mesmo contando com a protecção de Alexandre Herculano, que nesse mesmo ano o propôs para sócio correspondente da Academia Real das Ciências, no intuito de reabilitar o nome do amigo.

Entretanto, e depois de Ana Plácido ter dado à luz um filho, presumivelmente de Camilo, Pinheiro Alves moveu aos dois amantes um processo de adultério, tendo ambos sido presos na Cadeia da Relação do Porto em 1860. Era a segunda estada de Camilo naquela Prisão: desta vez, já escritor consagrado, recebe visitas do jovem rei D. Pedro V, traduz várias obras de autores estrangeiros e compõe diversos dos seus mais conhecidos romances – Amor de Perdição, Romance dum Homem Rico, Doze Casamentos Felizes. As suas recordações da Relação ficaram fixadas em Memórias do Cárcere, livro no qual dá conta das muitas figuras que ali conheceu, nomeadamente o célebre José do Telhado.
Depois da absolvição de Camilo e Ana Plácido, do nascimento do filho Jorge e da morte de Pinheiro Alves – que deixou à mulher uma herança em dinheiro e diversos imóveis – os dois mudam-se para a Quinta de São Miguel de Ceide em 1864, onde lhes nasce o terceiro filho, Nuno. Camilo continua a escrever vertiginosamente – chega a publicar seis romances por ano, para além da colaboração jornalística – e a doença oftálmica, que se tinha declarado anos antes vai piorando.

As manifestações de loucura do filho Jorge e as difíceis condições de subsistência obrigam-no, em 1871, a fazer um primeiro leilão da sua biblioteca. Sucedem-se publicações, sobretudo de traduções adaptadas, sem nome do autor original. Em 1879 volta à polémica, desta vez resultante do Cancioneiro Alegre de Poetas Portugueses e Brasileiros, antologia cujas críticas lhe valerão resposta no volume Os críticos do Cancioneiro Alegre. Nesse mesmo ano publica Eusébio Macário que, com A Corja, do ano seguinte e O senhor Ministro, publicado em Narcóticos, constituem uma série de imitações «facetas» do estilo naturalista, então entrado em voga. Num último romance, Vulcões de Lama, de 1886, ridiculariza a escola realista, pondo em cena diversos tipos da sociedade portuguesa da época.

Em 1888, depois de vários empenhos, é feito Visconde de Correia Botelho, conseguindo no ano seguinte uma pensão vitalícia para o filho Jorge, cuja loucura era irreversível.
Cego, e desenganado dos muitos médicos que o tentaram tratar, suicidou-se em S. Miguel de Ceide  no dia 1 de Junho de 1890.

Centro de Documentação de Autores Portugueses

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